Crisma: Uma Visão Bíblica

A Crisma, conhecida oficialmente na Igreja Católica Romana como “Sacramento da Confirmação”, é entendida como a complementação do Batismo, onde o católico recebe uma efusão especial do Espírito Santo para fortalecimento espiritual e maturidade na fé. No entanto, à luz das Escrituras e da doutrina reformada, essa prática apresenta sérias distorções teológicas e eclesiológicas.

O Ensino Católico Romano sobre a Crisma

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (§1285), a Crisma é o sacramento que “confere o dom do Espírito Santo para enraizar mais profundamente o fiel na filiação divina, incorporá-lo mais firmemente a Cristo, fortalecer seu vínculo com a Igreja, associá-lo mais estreitamente à sua missão e ajudá-lo a dar testemunho da fé cristã”. Este rito é realizado ordinariamente por um bispo, com a unção do crismando com óleo (o “santo crisma”), acompanhado da imposição das mãos e da frase: “Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo.”

Contudo, para os reformadores, esse rito é desprovido de fundamentação bíblica. A unção com óleo como ato sacramental foi abolida com a vinda de Cristo e o derramamento pleno do Espírito no Pentecostes. A doutrina reformada ensina que o Espírito Santo é dado completamente àqueles que creem, no momento da conversão, e não em uma cerimônia posterior arbitrária.

O Testemunho das Escrituras

A Bíblia não ensina que há uma segunda unção ou confirmação obrigatória para completar o Batismo. Em Efésios 1:13, Paulo afirma que os crentes foram “selados com o Espírito Santo da promessa” quando creram no evangelho. Em Atos 2:38, Pedro declara: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.”

Não há menção nas Escrituras de um rito posterior, ministrado apenas por bispos, que outorgue um dom do Espírito que o crente ainda não possuía. A tentativa de basear a Crisma em Atos 8 (a imposição de mãos de Pedro e João sobre os samaritanos) é uma leitura forçada. Aquele episódio é extraordinário, relacionado à unidade da Igreja nascente entre judeus e samaritanos, e não à instituição de um sacramento normativo.

A Reforma e a Suficiência de Cristo

A doutrina reformada, conforme expressa nas Confissões Reformadas como a Confissão de Fé de Westminster e o Catecismo de Heidelberg, afirma que Cristo é suficiente em sua obra redentora, e que os meios ordinários de graça são a Palavra pregada, os sacramentos bíblicos (Batismo e Ceia) e a oração.

O Batismo, como sinal e selo da aliança, já representa a entrada na comunidade da fé e é completo em si mesmo. A fé verdadeira e regeneradora é obra do Espírito, e não pode ser “completada” por um rito eclesiástico. O Espírito Santo não é concedido por homens, mas por Deus, conforme a Sua vontade e promessa (João 3:8; 1 Coríntios 12:11).

A Crisma como Tradição Humana

Portanto, a Crisma, tal como praticada pela Igreja de Roma, é uma tradição humana sem fundamento bíblico. Ela estabelece uma falsa dicotomia entre o Batismo e o dom do Espírito, e cria uma dependência sacramentalista de atos eclesiásticos para aquilo que Deus já concede soberanamente em Cristo. Jesus prometeu: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim… do seu interior fluirão rios de água viva” (João 7:37-38). Não há menção de um “sacramento de confirmação” para validar essa promessa.

Conclusão

A Crisma é uma invenção posterior, desenvolvida a partir de práticas eclesiásticas não ordenadas por Cristo. Em contraste, a doutrina reformada exalta a suficiência de Cristo, a eficácia da fé, e a plenitude do Espírito Santo já presente na vida do crente. Devemos confiar na Palavra de Deus, e não em ritos adicionais que apenas obscurecem a simplicidade do evangelho.

“Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.” (Mateus 15:13)