Nos últimos anos, os chamados “bebês reborn” — bonecas feitas com impressionante realismo para se parecerem com recém-nascidos — ganharam popularidade em diversas partes do mundo. Algumas pessoas os colecionam por hobby, outras os utilizam em contextos terapêuticos, e há aquelas que chegam a tratá-los como se fossem bebês reais. Diante disso, é legítimo perguntar: como a fé reformada avalia esse fenômeno? Há espaço para isso na vida cristã?
O que é um Bebê Reborn?
Um bebê reborn é uma boneca artesanal, esculpida e pintada à mão para se assemelhar com exatidão a um bebê real — em peso, textura, expressão facial e até cheiro. Embora algumas pessoas os utilizem como objetos de arte ou memória, há casos em que eles são tratados como filhos substitutos, recebendo cuidados, roupas e até certidões de nascimento fictícias.
Uma Cosmovisão Reformada
A teologia reformada ensina que todas as coisas devem ser vistas e julgadas à luz da Palavra de Deus, e que Cristo deve ser Senhor sobre todas as áreas da vida (1 Coríntios 10:31; Colossenses 3:17). Por isso, mesmo temas que parecem inofensivos ou neutros, como o uso de bonecas, devem ser examinados biblicamente.
1. Idolatria Emocional e Afeto Mal Orientado
Embora a Bíblia não condene o uso de bonecas como brinquedos ou objetos artísticos, a fé reformada alerta para o perigo da idolatria do coração. Quando uma criação humana — mesmo uma boneca — passa a ocupar o lugar de um afeto desordenado, substituindo pessoas reais ou tentando preencher vazios existenciais, estamos diante de um problema espiritual.
“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.”
(1 João 5:21)
É legítimo sentir dor pela perda de um filho, pela solidão ou pela ausência da maternidade. Mas tentar reconstruir emocionalmente o que só Deus pode restaurar através de um objeto fabricado pode se tornar uma forma sutil de fuga da realidade e de negação da soberania divina sobre a vida.
2. A Suficiência de Cristo nas Dores Humanas
A teologia reformada proclama que Cristo é suficiente para consolar, sustentar e preencher os vazios da alma (2 Coríntios 1:3-5; Salmo 34:18). A substituição emocional por um bebê reborn pode demonstrar uma tentativa humana de construir um alívio emocional sem passar pelo consolo do Evangelho.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”
(Mateus 11:28)
Buscar consolo em Cristo e na comunhão dos santos é parte da cura verdadeira. A dor, quando levada à cruz, encontra propósito, conforto e esperança.
3. O Engano da Ilusão
De forma prática, tratar um objeto como se fosse uma pessoa pode representar uma ruptura com a realidade que Deus nos chama a viver com sobriedade e vigilância (1 Pedro 5:8). A Bíblia nos chama a viver no mundo real, lidando com as dores e alegrias de forma madura, buscando em Deus direção e conforto.
“Despojai-vos do velho homem… e revesti-vos do novo homem, criado segundo Deus.”
(Efésios 4:22-24)
O cristão não é chamado a viver fugas artificiais, mas a encarar a vida com fé, mesmo em meio às lágrimas.
4. Cuidados Pastoral e Terapêutico
Deve-se, no entanto, distinguir usos diferentes. Em terapias para pacientes com Alzheimer, ou como brinquedos para crianças, o bebê reborn pode ser uma ferramenta legítima, desde que o coração não esteja envolvido em dependência emocional ou simbólica.
A fé reformada é sensível à dor humana, mas ao mesmo tempo firme em apontar que Cristo é o único mediador e sustentador da alma. O pastor e a igreja devem acolher com compaixão, mas também discipular com fidelidade.
Conclusão
A teologia reformada não se opõe a objetos artísticos ou brinquedos. Mas quando algo como o bebê reborn passa a substituir relações reais, ocupar o lugar de consolo espiritual ou criar uma ilusão emocional, ele se torna um risco espiritual, emocional e até moral.
O coração humano é uma fábrica de ídolos, como dizia João Calvino. Por isso, mesmo um boneco pode se tornar um símbolo de fuga ou idolatria. O chamado reformado é para que toda dor e toda saudade sejam levadas ao Cristo ressurreto, que consola com verdade e cura com graça.
Soli Deo Gloria
Somente Cristo é suficiente para a alma ferida.
Somente Ele ressuscita o que está morto — não bonecos, mas corações.