O Pragmatismo e a Doutrina Reformada: Uma Crítica Bíblica e Teológica

O pragmatismo, como filosofia, valoriza aquilo que é útil e funcional, avaliando a verdade com base em seus resultados práticos. No contexto cristão, essa abordagem tem permeado a vida de muitas igrejas e ministérios, substituindo os fundamentos bíblicos por métodos e estratégias voltados apenas para o que “funciona”. Mas como a doutrina reformada responde a essa tendência? Este artigo busca expor, com base nas Escrituras e na teologia reformada, os perigos do pragmatismo e a centralidade da glória de Deus na vida e na prática da igreja.


O Pragmatismo e sua Incompatibilidade com a Sola Scriptura

A doutrina reformada se alicerça na Sola Scriptura – a Escritura como única regra infalível de fé e prática. O pragmatismo, porém, subverte esse princípio ao introduzir como critério principal aquilo que gera resultados aparentes, como aumento numérico ou sucesso institucional.
No entanto, as Escrituras nos advertem que nem tudo que parece eficaz diante dos homens é aprovado por Deus. Provérbios 14:12 ensina:

“Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.”

A Bíblia não é um manual de métodos eficientes para alcançar metas humanas, mas a revelação da vontade de Deus para Sua glória e o bem eterno de Seu povo. Quando a igreja adota o pragmatismo, corre o risco de desobedecer à ordem divina de proclamar a Palavra “a tempo e fora de tempo” (2 Timóteo 4:2) e de comprometer a fidelidade em nome da relevância.


A Centralidade da Glória de Deus na Doutrina Reformada

O pragmatismo é essencialmente antropocêntrico, pois coloca os desejos, necessidades e opiniões humanas como ponto de partida. A doutrina reformada, por outro lado, é teocêntrica, afirmando que todas as coisas devem ser feitas “para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).
Na prática, isso significa que o sucesso de um ministério não é medido por números ou aceitação popular, mas pela fidelidade ao chamado de Deus. O apóstolo Paulo declarou:

“Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor” (2 Coríntios 4:5).

Essa perspectiva desafia a igreja a resistir à tentação de comprometer a mensagem do evangelho para atrair multidões, mantendo-se firme na verdade de que é Deus quem traz o crescimento (1 Coríntios 3:7).


A Tentação de Resultados Imediatos

O pragmatismo também promove uma visão imediatista, ignorando o fato de que Deus opera em tempos e modos soberanos. O ministério de Noé, por exemplo, foi marcado por anos de pregação sem conversões aparentes, mas ele foi considerado justo por sua obediência (Hebreus 11:7).
Da mesma forma, Isaías foi chamado para pregar a um povo que não ouviria (Isaías 6:9-10), mostrando que o sucesso aos olhos de Deus é medido pela fidelidade, não pelos resultados. O pragmatismo falha em considerar que Deus muitas vezes age de maneiras que transcendem a compreensão humana, e que Seu plano soberano não se submete às métricas humanas.


O Perigo da Idolatria de Métodos

Ao colocar os métodos acima do conteúdo, o pragmatismo frequentemente transforma ferramentas úteis em ídolos. Estruturas, programas e estratégias podem se tornar o foco principal, relegando a pregação expositiva e a adoração reverente a um papel secundário. Na doutrina reformada, no entanto, o culto é centralizado na Palavra de Deus e regulado por ela – o Princípio Regulador do Culto.
Jesus advertiu contra esse desvio ao dizer:

“Deus é espírito; e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).

Adorar a Deus em “verdade” significa seguir o padrão estabelecido por Ele, não as preferências humanas ou as tendências culturais.


O Chamado à Fidelidade em Meio à Pressão Cultural

A doutrina reformada ensina que a igreja é chamada a ser um povo santo, separado para Deus, mesmo que isso signifique rejeição pelo mundo. A busca pragmática por aceitação frequentemente leva à diluição do evangelho e à conformidade com a cultura, algo condenado em Romanos 12:2:

“Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente.”

Em vez de moldar a mensagem para agradar os homens, os reformados proclamam com firmeza que o evangelho é escândalo para os judeus e loucura para os gentios (1 Coríntios 1:23), mas é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.


Conclusão: Glória a Deus, Não Resultados Humanos

O pragmatismo pode parecer atraente, mas sua filosofia é incompatível com a doutrina reformada e a mensagem bíblica. A igreja não deve ser guiada pelo que “funciona”, mas pelo que é verdadeiro, bom e agradável a Deus. A fidelidade às Escrituras é o padrão divino, e qualquer outro critério resulta em desobediência e afastamento da glória de Deus.
Que o povo de Deus mantenha o foco na proclamação fiel da Palavra, na adoração reverente e na dependência da graça soberana, rejeitando as armadilhas do pragmatismo e buscando agradar Àquele que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9).