Declaração de Fé e Ordem de Savoy de 1658

A Declaração de Savoy é o trabalho de uma comissão, composta pelos Drs. Thomas Goodwin, John Owen, Philip Nye, William Bridge, Joseph Caryl, e William Greenhill, que tinham sido membros da Assembléia Westminster. É dito que John Howe também teve grande participação na obra.

John Owen foi um dos seus líderes mais proeminentes. Ele é chamado de o principal teólogo dos congregacionais ingleses e “príncipe dos puritanos”. Owen foi capelão de Cromwell e vice-chanceler da Universidade de Oxford.

CAPÍTULO I: DA SAGRADA ESCRITURA

1. Embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, como a tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação; portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja; e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura a mais necessária; aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

2. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os Livros do Antigo e do Novo Testamento, que são estes:

DO ANTIGO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

DO NOVO TESTAMENTO: Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, as Epístolas de Paulo aos Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, a Primeira e Segunda Epístolas de Pedro, a Primeira, Segunda e Terceira Epístolas de João, a Epístola de Judas, Apocalipse.

Todos os quais são dados por inspiração de Deus, para ser a regra de fé e vida.

3. Os Livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração Divina, não fazem parte do cânon da Escritura; e, portanto, não são de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos humanos.

4. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (que é a própria Verdade), o seu Autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus.

5. Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus; ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações.

6. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado na Escritura, ou por boa e precisa consequência pode ser deduzido a partir da Escritura: ao que nada, em qualquer tempo deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito, ou por tradições humanas. No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus sendo necessária para a salvífica compreensão das coisas reveladas na Palavra; e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas.

7. Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, nem igualmente claras a todos; ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhecidas, cridas, e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura, que não apenas os doutos, mas os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

8. O Antigo Testamento em Hebraico (que era a língua nativa do povo de Deus no passado), e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais comumente conhecido entre as nações), sendo imediatamente inspirados por Deus e pelo Seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos; assim, em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles. Mas, porque essas línguas originais não são conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e é ordenado, no temor de Deus, ao lê-las e a examina-las, portanto, elas devem ser traduzidas para a língua comum de cada povo aonde chegar, para que, a Palavra de Deus habitando abundantemente em todos, eles possam adorá-Lo de uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter esperança.

9. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer escritura (que não é múltipla, mas única), esse pode ser investigado e conhecido por meio de outros textos que o expressem mais claramente.

10. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias da religião devem ser determinadas, e todos os decretos de conselhos, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos particulares, devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos firmar, não pode ser outro senão o Espírito falando na Escritura; no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida.

CAPÍTULO II: DE DEUS, E DA SANTA TRINDADE

1. Há somente um Deus vivo e verdadeiro, que é infinito em seu ser e perfeição, um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, partes ou paixões; imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, sapientíssimo, santíssimo, completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade imutável e justíssima, para a Sua própria glória. É cheio de amor, gracioso, misericordioso, longânimo, abundante em bondade e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado; o galardoador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em Seus julgamentos; odiando todo pecado; e que não tem por inocente o culpado.

2. Deus possui toda a vida, glória, bondade, bem-aventurança, em e de si mesmo; Ele é todo suficiente para si, e não possui necessidade de quaisquer criaturas que Ele fez, nem delas deriva glória alguma, mas apenas manifesta sua própria glória em, por, para e sobre elas; ele é a única origem de todo ser, de quem, por quem e para quem são todas as coisas; e exerce soberano domínio sobre elas, para fazer por elas, para elas ou sobre elas tudo que lhe apraz. Todas as coisas estão manifestas e patentes diante dele; seu conhecimento é infinito, infalível e independente da criatura; assim como nada para ele é contingente ou incerto. Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e em todos os seus comandos. Para ele, é devido da parte de anjos e homens, e de todas as outras criaturas, todo o culto, serviço ou obediência que, como criaturas, eles devem em relação ao seu Criador, e tudo quanto mais Ele se agradar em requerer deles.

3. Na unidade da Divindade há três Pessoas, de uma mesma substância, poder e eternidade. Deus, o Pai; Deus, o Filho e Deus, o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém, nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo eternamente procedente do Pai e do Filho. Esta doutrina da Trindade é o fundamento de toda a nossa comunhão com Deus, e confortável dependência dEle.

CAPÍTULO III: DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS

1. Deus, desde toda a eternidade, pelo mui sábio e santo Conselho de Sua própria vontade, livre e imutavelmente ordenou tudo o que venha a acontecer; ainda assim, de modo que nem Deus é o autor do pecado; nem é violentada a vontade da criatura, nem é eliminada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.

2. Embora Deus conheça tudo o que possa ou venha a ocorrer, sobre todas as circunstâncias imagináveis; ainda assim Ele não decretou qualquer coisa, porque Ele a previu como futura, ou como aquilo que poderia ocorrer, em tais condições.

3. Por meio do decreto de Deus e para manifestação da Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna, e outros preordenados para a morte eterna.

4. Esses anjos e homens, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; e o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído.

5. Aqueles da humanidade que são predestinados para a vida, Deus, antes da fundação do mundo, de acordo com o Seu propósito eterno e imutável, e o secreto conselho e beneplácito de Sua vontade, os escolheu em Cristo, para a glória eterna, por Sua pura livre graça e amor, não por qualquer previsão de fé ou boas obras ou perseverança em qualquer um deles, ou por qualquer outra coisa na criatura, como condições ou causas que O movesse a isso; e tudo para o louvor da Sua gloriosa graça.

6. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo propósito eterno e mui livre de Sua vontade, preordenou todos os meios para isso. Portanto, aqueles que são eleitos, estando caídos em Adão são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo Seu Espírito, que opera no tempo devido; são justificados, adotados, santificados e preservados pelo Seu poder por meio da fé para a salvação. Nem são quaisquer outros redimidos por Cristo, eficazmente chamados, justificados, adotados, santificados e salvos, senão somente os eleitos.

7. Aprouve a Deus, de acordo com o inescrutável conselho de Sua própria vontade, pela qual Ele concede ou recusa misericórdia, como Lhe apraz, para a glória do Seu soberano poder sobre as Suas criaturas, passar pelo restante da humanidade, e ordená-los à desonra e à ira por seu pecado, para o louvor de Sua gloriosa justiça.

8. A doutrina deste elevado mistério da predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, para que os homens, atendendo à vontade de Deus revelada em Sua Palavra, e prestando obediência a isso, possam, a partir da certeza da sua vocação eficaz, certificar-se de sua eleição eterna. Portanto, esta doutrina deve motivar o louvor, reverência e admiração a Deus; e humildade, diligência e consolação abundante para todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho.

CAPÍTULO IV: DA CRIAÇÃO

1. Aprouve a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, no princípio, criar ou fazer a partir do nada o mundo, e todas as coisas nele, sejam visíveis ou invisíveis, no espaço de seis dias, e tudo muito bom.

2. Após Deus haver feito todas as outras criaturas, ele criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, dotados de conhecimento, retidão e verdadeira santidade segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e poder para cumpri-la; e ainda assim sob a possibilidade de transgressão, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era sujeita à mudança. Além dessa lei escrita em seus corações, eles receberam a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal; de forma que enquanto eles obedeceram a este preceito foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas.

CAPÍTULO V: DA PROVIDÊNCIA

1. Deus, o grande Criador de todas as coisas, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, ações e coisas, desde a maior até a menor, por Sua mui sábia e santa providência, segundo a Sua infalível presciência, e o livre e imutável conselho de Sua própria vontade, para o louvor da glória de Sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia.

2. Embora em relação à presciência e ao decreto de Deus, a causa primeira, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja necessária, livre ou contingentemente.

3. Deus, em Sua providência ordinária, faz o uso de meios, ainda assim, é livre para operar sem, acima e contra eles, como Lhe agrade.

4. A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, tanto manifestam-se em Sua providência, em que Seu conselho determinado se estende mesmo até a primeira Queda, e todos os outros pecados de anjos e homens (e não por meio de mera permissão) os quais Ele também, mui sábia e poderosamente delimita, e de forma variada ordena e governa em uma multiforme dispensação, para os Seus próprios santos fins; ainda assim, de forma que a pecaminosidade disso procede da criatura, e não de Deus; que sendo santíssimo e justíssimo, não é, nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.

5. O Deus mui sábio, justo e gracioso, frequentemente deixa, por algum tempo, Seus próprios filhos em múltiplas tentações e corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que eles sejam humilhados; e elevá-los a uma dependência mais íntima e constante por Seu próprio apoio, e para torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado, e para diversos outros santos e justos fins.

6. Quanto aos perversos e ímpios, a quem Deus, como um justo juiz, por pecados anteriores, cega e endurece; deles, Ele não apenas retém a Sua graça, pela qual eles poderiam ser iluminados em seus entendimentos e forjados em seus corações; mas às vezes também lhes retira os dons que eles tinham; e os expõe a objetos de forma que a corrupção deles se torna em ocasiões de pecado; e, além disso, entrega-lhes às suas próprias concupiscências, às tentações do mundo e ao poder de Satanás; segundo o que ocorre que eles se endurecem, mesmo sob aqueles meios que Deus usa para abrandar dos outros.

7. Como a providência de Deus, em geral, atinge todas as criaturas, assim, de uma forma mui especial, Ele cuida de Sua Igreja, e dispõe de todas as coisas para o bem dela.

CAPÍTULO VI: DA QUEDA DO HOMEM, DO PECADO, E DO SEU CASTIGO

1. Deus havendo feito um pacto de obras e vida, então, com os nossos primeiros pais e toda a sua posteridade neles, sendo eles seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, deliberadamente transgrediram a lei de sua criação, e quebraram a aliança em comer o fruto proibido.

2. Por este pecado eles, e nós neles, decaíram da retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes da alma e do corpo.

3. Sendo eles os ancestrais e, pelo desígnio de Deus, os representantes de toda humanidade, a culpa do pecado foi imputada a toda a sua posteridade, e a corrupção natural passou a todos os seus descendentes que deles procede por geração ordinária.

4. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais.

5. Esta corrupção da natureza, durante esta vida, persiste naqueles que são regenerados; e, embora, ela seja, através de Cristo, perdoada e mortificada, todavia tanto ela mesma como todos seus impulsos, são verdadeira e propriamente pecado.

6. Todo o pecado, tanto original como o atual, sendo transgressão da justa lei de Deus, e por isso contrário a ela, torna, por sua própria natureza, a trazer culpa sobre o pecador, e por essa ele está sujeito à ira de Deus, e à maldição da lei, e, portanto sujeito à morte, com todas as misérias espirituais, temporais e eternas.

CAPÍTULO VII: DA ALIANÇA DE DEUS COM O HOMEM

1. A distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus, que Ele Se agrada em expressar por meio de aliança.

2. A primeira aliança feita com o homem era uma aliança de obras, pela qual a vida eterna era prometida a Adão, e nele para a sua posteridade, sob a condição de obediência perfeita e pessoal.

3. O homem, por sua queda, tornando-se incapaz de viver por esse pacto, o Senhor dignou-Se a fazer um segundo, comumente chamado de pacto da graça: no qual ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nEle, para que eles sejam salvos, e prometendo dar a todos os que são ordenados para a vida, o Seu Espírito Santo, para torná-los dispostos e capazes de crer.

4. Este pacto da graça é frequentemente apresentado na Escritura pelo nome de testamento, em referência à morte de Jesus Cristo, o Testador, e a herança eterna, com todas as coisas que pertencem a Ele, legadas nesse pacto.

5. Embora esta aliança tenha sido administrada diversa e variadamente em relação às ordenanças e instituições no tempo da lei, e, desde a vinda de Cristo em carne; ainda assim, para a substância e eficácia da mesma, para todos os seus fins espirituais e de salvação, é uma mesma coisa; sobre a consideração destas várias dispensações, isto é chamado de Antigo e Novo Testamento.

CAPÍTULO VIII: DE CRISTO, O MEDIADOR

1. Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, e de acordo com o pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho unigênito, para ser o Mediador entre Deus e os homens, o profeta, sacerdote e rei; a cabeça e Salvador da Igreja, o herdeiro de todas as coisas, e juiz do mundo; a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser sua semente e para ser por ele no tempo remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.

2. O Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância e igual ao Pai, quando chegou a plenitude dos tempos, tomou sobre si a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e enfermidades comuns; embora sem pecado: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, e da substância dela. Para que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, a Divindade e a humanidade, fossem inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Esta pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.

3. O Senhor Jesus em sua natureza humana assim unida à divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira; tendo em si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, em quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse: a fim de que sendo santo, inocente, imaculado, e cheio de graça e de verdade, ele pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas para este foi chamado por seu Pai; que colocou todo o poder e juízo em sua mão, e lhe ordenou que os exercesse.

4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente, Para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à lei, que ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que a nós era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido. E foi feito pecado e maldição, por nossa causa, suportando os mais cruéis tormentos imediatamente vindos de Deus em sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em seu corpo; foi crucificado e morreu; foi sepultado e ficou sob o poder da morte, mas não viu a corrupção. No terceiro dia ele ressuscitou dos mortos, com o mesmo corpo no qual ele sofreu; com o qual também ele subiu ao céu, e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão; e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo.

5. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e sacrifício de si mesmo, que ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus; e adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança eterna no reino dos céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai.

6. Embora a obra da redenção não tenha sido realmente realizada por Cristo senão depois da Sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo, nas – e através das – promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que o apontavam como semente da mulher, que iria esmagar a cabeça da serpente, e ao Cordeiro que foi morto desde o princípio do mundo, sendo ontem e hoje o mesmo e para sempre.

7. Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas; cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza às vezes, na Escritura, é atribuído à pessoa de Cristo denominada pela outra natureza.

8. Cristo, com toda a certeza e eficazmente aplica e comunica a salvação a todos aqueles para os quais ele a adquiriu. Isto ele consegue; fazendo intercessão por eles e revelando-lhes, pela Palavra, os mistérios da salvação; persuadindo-os eficazmente pelo seu Espírito a crer e a obedecer; e governando seus corações pelo seu Espírito e Palavra; vencendo todos os seus inimigos com a sua onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios mais conformes à sua mui admirável e inescrutável dispensação.

CAPÍTULO IX: DO LIVRE-ARBÍTRIO

1. Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural e poder de ação em escolha, que ela não é nem forçada, nem determinada para o bem ou o mal por qualquer absoluta necessidade da natureza.

2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus; mas ainda assim, mutavelmente, de forma que ele podia cair.

3. O homem, por meio de sua queda em um estado de pecado, perdeu completamente todo o poder da vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; assim como um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto em pecado, não é capaz, por sua própria força, de converter-se ou preparar-se para isso.

4. Quando Deus converte um pecador e o transporta para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, por Sua graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom; ainda assim, de modo que, em razão de sua corrupção remanescente, ele não o faz perfeitamente, nem apenas deseja o que é bom, mas também o que é mau.

5. A vontade do homem é feita imutável e perfeitamente livre para o bem somente, apenas no estado de glória.

CAPÍTULO X: DO CHAMADO EFICAZ

1. Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e somente esses, a ele apraz, em Seu tempo determinado e aceitável, chamar eficazmente, por Sua Palavra e pelo Seu Espírito, do estado natural de pecado e morte, para a graça e a salvação por Jesus Cristo, isto ele faz, iluminando suas mentes de maneira espiritual e salvífica, para entender as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando as suas vontades, predispondo-os para o bem e trazendo-os irresistivelmente para Jesus Cristo; no, entanto eles vêm a Cristo mui livremente, sendo para isso dispostos pela Sua graça.

2. Esta chamada eficaz é por livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem, que nela está inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela, e a receber a graça oferecida e comunicada nela.

3. As crianças que morrem na infância, se eleitas, são regeneradas e salvas por Cristo, que opera quando, onde e como lhe agrada. Do mesmo modo são salvas todas as outras pessoas eleitas incapazes de serem chamadas exteriormente, pelo ministério da Palavra.

4. Outros, não eleitos, embora possam ser chamados pelo ministério da Palavra, e tenham algumas das operações comuns do Espírito, contudo não sendo eficazmente atraídos pelo Pai, eles nem vêm e nem podem vir a Cristo e, portanto, não podem ser salvos; muito menos poderão por qualquer outro meio aqueles que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas à luz da natureza e com a lei da religião que professam; o afirmar e sustentar que o possam é muito pernicioso e detestável.

CAPÍTULO XI: DA JUSTIFICAÇÃO

1. Aqueles a quem Deus chama eficazmente, também livremente justifica: não por meio da infusão de justiça para eles, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justos; não por qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente por causa de Cristo; não lhes imputando como sua justiça a própria fé, o ato de crer, ou qualquer outra obediência evangélica, mas pela imputação da obediência ativa de Cristo a toda a lei, e obediência passiva em Sua morte por sua completa e única justiça, eles recebem e descansam sobre Ele e Sua justiça, pela fé; fé esta que eles não têm de si mesmos, esta é um dom de Deus.

2. A Fé, assim recebendo e descansando em Cristo e Sua justiça, é o único instrumento de justificação; ainda assim, não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda acompanhada de todas as outras graças salvadoras, e não é uma fé morta, mas opera pelo amor.

3. Cristo, por Sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos os que são assim justificados, e pelo sacrifício de Si mesmo, no sangue de Sua cruz, sujeitando-se no lugar deles à penalidade a eles devida, fez uma satisfação apropriada, real e plena à justiça de Deus em nome deles. No entanto, na medida em que Ele foi dado pelo Pai para eles, e Sua obediência e satisfação aceitos em seu lugar, e ambos livremente, não por qualquer coisa neles, a sua justificação é apenas de livre graça, de forma que tanto a exata justiça e rica graça de Deus sejam glorificadas na justificação dos pecadores.

4. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e Cristo, na plenitude do tempo, morreu pelos seus pecados e ressuscitou para a justificação deles; no entanto, eles não são justificados pessoalmente, até que o Espírito Santo, em devido tempo, efetivamente, aplica-lhes a Cristo.

5. Deus continua a perdoar os pecados daqueles que são justificados; e embora eles nunca possam cair do estado de justificação, contudo eles podem, por seus pecados, cair no desagrado paternal de Deus, e nesta condição eles usualmente não têm a luz de Sua face restaurada a eles, até que se humilhem, confessem seus pecados, peçam perdão e renovem sua fé e arrependimento.

6. A justificação dos crentes sob o Velho Testamento era, em todos estes aspectos, uma e a mesma com a justificação dos crentes sob o Novo Testamento.


CAPÍTULO XII: DA ADOÇÃO

1. Em e para seu único Filho, Jesus Cristo, Deus é servido fazer participantes da graça da adoção todos quantos são justificados. Por esta graça eles são recebidos no número dos filhos de Deus e gozam a liberdade e privilégios de filhos de Deus; Recebem sobre si o nome de Deus; recebem o Espírito de adoção; têm acesso ao trono da graça com confiança; são habilitados a clamar: “Aba, Pai”; são tratados com comiseração, protegidos, providos e por ele corrigidos, como por um pai; porém, jamais são lançados fora, pois estão selados para o dia da redenção. E herdam as promessas, na qualidade de herdeiros da salvação eterna.

CAPÍTULO XIII: DA SANTIFICAÇÃO

1. Aqueles que são unidos a Cristo, eficazmente chamados e regenerados, tendo um novo coração e um novo espírito criados neles, através da virtude da morte e ressurreição de Cristo, são, além disso, santificados real e pessoalmente por meio da mesma virtude, pela Sua Palavra e Espírito que habita neles; o domínio de todo o corpo do pecado é destruído, e as várias concupiscências são cada vez mais enfraquecidas e mortificadas, e eles mais e mais vivificados e fortalecidos, em todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.

2. Esta santificação é no homem todo, ainda que imperfeita nesta vida: ainda permanecem alguns resíduos de corrupção em todas as partes, de onde nasce uma guerra contínua e irreconciliável, a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne.

3. Nesta guerra, embora a corrupção remanescente por um tempo possa mui prevalecer, ainda assim, através do suprimento contínuo de força do Espírito santificador de Cristo, a parte regenerada triunfa, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.


CAPÍTULO XIV: DA FÉ SALVADORA

1. A graça da fé, pela qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação de suas almas, é a obra do Espírito de Cristo em seus corações, e é ordinariamente operada pelo ministério da Palavra; pelo que também, e pela administração dos selos, pela oração, e por outros meios, é aumentada e fortalecida.

2. Por esta fé, o cristão crê ser verdade tudo quanto é revelado na Palavra, segundo a autoridade do mesmo Deus falando nela, e age em conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular, prestando obediência aos mandamentos, tremendo diante das ameaças e abraçando as promessas de Deus para esta vida, e para a que está por vir. Mas os principais atos de fé salvadora são: aceitar, receber e descansar sobre Cristo somente para a justificação, santificação e vida eterna, em virtude do pacto da graça.

3. Esta fé, embora possa ser diferente em graus, e possa ser fraca ou forte. No entanto, assim como as demais graças salvadoras, e mesmo se for pequeníssima, ela é de um tipo e de uma natureza diferentes daquela fé e da graça comum que os seguidores professos possuem. Por isso, mesmo que seja muitas vezes atacada e enfraquecida, ainda assim, sempre alcança a vitória; crescendo em muitos para uma plena segurança por meio de Cristo, que é o autor e também o consumador da nossa fé.

CAPÍTULO XV: DO ARREPENDIMENTO PARA A VIDA E SALVAÇÃO

1. Aqueles eleitos que são convertidos em anos maduros, tendo vivido algum tempo em estado natural, e por isso, servido a diversas concupiscências e prazeres, Deus em seu chamado eficaz concede-lhes o arrependimento para a vida.

2. Considerando que não haja ninguém que faça o bem e não peque, e o melhor dos homens pode, através do poder e sedução de sua corrupção habitando nele, com a prevalência das tentações, cair em grandes pecados e provocações; Deus tem, no pacto da graça, providenciado misericordiosamente que os crentes que assim pecaram e caíram, sejam renovados através do arrependimento para a salvação.

3. Este arrependimento salvífico é uma graça evangélica, pelo qual uma pessoa, sendo pelo Espírito Santo feita sensível aos múltiplos males do seu pecado, pela fé em Cristo, humilha-se por isso com a tristeza segundo Deus, ódio disso, e auto aborrecimento, orando por perdão e pela força da graça, com um propósito e esforço, por suprimentos do Espírito, para andar diante de Deus agradando-lhe em todas as coisas

4. Como o arrependimento deve continuar por todo o curso de nossas vidas, em consideração ao corpo da morte, e as ações do mesmo, por isso, é dever de todo homem arrepender-se de seus pecados particulares e conhecidos, individualmente.

5. Tal é a provisão que Deus tem feito por Cristo, no pacto da graça para a preservação dos crentes para a salvação; que, embora não haja pecado tão pequeno que não mereça a condenação; ainda não há pecado tão grande que possa trazer condenação sobre aqueles que se arrependem; o que torna a constante pregação sobre o arrependimento necessária.

CAPÍTULO XVI: DAS BOAS OBRAS

1. Boas obras são somente aquelas que Deus ordenou em sua santa Palavra, e não as que, sem autoridade dela, são elaboradas por homens movidos por um zelo cego ou sob outro pretexto de boa intenção.

2. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira, e por elas os crentes manifestam a sua gratidão, fortalecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do evangelho, fazem calar os adversários, e glorificam a Deus, de cuja feitura são, criados em Cristo Jesus para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto para santificação, eles possam ter por fim a vida eterna.

3. Sua capacidade de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios crentes, mas provém totalmente do Espírito de Cristo. E para que os crentes possam desempenhar as boas obras, é requerida uma influência contínua do mesmo Espírito Santo operando neles tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade, isso porém, não significa que eles devem tornar-se negligentes, como se não tivessem a obrigação de cumprirem um dever senão quando movidos de maneira especial pelo Espírito; antes, eles devem ser diligentes em desenvolver a graça de Deus que neles há.

4. Mesmo aqueles que conseguem prestar a maior obediência nesta vida, estão longe de exceder e fazer mais do que é requerido por Deus, pois eles ainda ficam aquém do muito que por dever eles são obrigados a fazer.

5. Nós não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer da mão de Deus o perdão do pecado ou a vida eterna, visto ser grande a desproporção que há entre elas e a glória por vir, e a infinita distância que há entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio delas, nem satisfazê-lo pela dívida dos nossos pecados anteriores; mas quando tivermos feito tudo o que pudermos, temos feito somente o nosso dever, e somos servos inúteis. Se nossas obras são boas elas procedem do Espírito. Contudo, à medida elas são desempenhadas por nós, essas obras vão sendo contaminadas e misturadas com tanta fraqueza e imperfeição, que não podem suportar a severidade do julgamento de Deus.

6. Todavia, desde que os crentes, como pessoas, são aceitos por meio de Cristo, as suas obras também são aceitas em Cristo, não como se fossem nesta vida totalmente inculpáveis e irrepreensíveis diante de Deus; antes, significa que ele, olhando para eles em seu Filho, se agrada de aceitar e recompensar aquilo que é sincero, embora realizado com muitas fraquezas e imperfeições.

7. As obras feitas por homens não regenerados, embora por si mesmas possam ser coisas que Deus ordena, e proveitosas tanto para a pessoa que as faz quanto para outrem; contudo, porque não procedem de um coração purificado pela fé; e de acordo com a Palavra, nem são feitas de uma maneira correta, nem com a finalidade correta, a glória de Deus; elas são, portanto, pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem tornar uma pessoa apta para receber a graça de Deus; não obstante, a sua negligência delas seja ainda mais pecaminosa e ofensiva a Deus.

CAPÍTULO XXII: DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS

1. Aqueles que Deus aceitou em Seu Amado, eficazmente chamados e santificados pelo Seu Espírito, não podem nem total, nem finalmente cair do estado de graça; mas certamente perseverarão até o fim, e serão eternamente salvos.

2. Esta perseverança dos santos depende, não do seu próprio livre-arbítrio, mas da imutabilidade do decreto da eleição, que flui a partir do livre e imutável amor de Deus o Pai; sobre a eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo; e da união com Ele; da promessa de Deus; da permanência de Seu Espírito e da semente de Deus dentro deles; e da natureza do pacto da graça; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade.

3. E embora, eles possam, através das tentações de Satanás e do mundo, a prevalência de corrupção remanescente neles, e a negligência dos meios de sua preservação, cair em pecados graves; e por algum tempo continuar neles: em que eles incorrem no desagrado de Deus, e entristecem o Seu Espírito Santo; vindo a ter suas graças e consolos enfraquecidos; têm os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas; prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais; ainda assim, eles são e serão guardados pelo poder de Deus por meio da fé para a salvação.

CAPÍTULO XVIII: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO

1. Embora os temporariamente crentes, e outros homens não regenerados, possam em vão iludir-se com falsas esperanças e presunções carnais de se acharem no favor de Deus e em estado de salvação; esta esperança deles perecerá, mas quanto aos que verdadeiramente creem no Senhor Jesus, e o amam com sinceridade, procurando andar em toda a boa consciência diante dele, podem, nesta vida, certificar-se de que eles estão em um estado de graça, e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, esta esperança jamais os envergonhará.

2. Esta certeza não é uma mera conjectural e provável, baseada em uma esperança falível; mas uma infalível segurança de fé, fundada no sangue e justiça de Cristo revelados no Evangelho, bem como na evidência interna daquelas graças em que as promessas são feitas, e no testemunho imediato do Espírito testificando nossa adoção, e como fruto disso, mantendo o nosso coração humilde e santo.

3. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades: contudo sendo habilitado pelo Espírito a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcança-la, sem revelação extraordinária, no uso correto dos meios ordinários. E, portanto, é dever de todos empregar toda a diligência para fazer firme a sua vocação e eleição; A fim de que por esse modo, o seu coração possa dilatar-se em paz e gozo no Espírito Santo, em amor e gratidão a Deus, e em força e alegria nos deveres de obediência, estes são os frutos próprios desta segurança, a qual está longe de inclinar os homens para o relaxamento.

4. Os verdadeiros crentes podem ter a certeza da sua salvação abalada de diversas maneiras, diminuída e interrompida; por negligência na preservação da mesma; caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo; por ceder a alguma tentação súbita ou veemente; por Deus retirar de sobre eles a luz da sua presença, permitindo que mesmo os que O temem caminhem em trevas, que não tenham luz. Contudo, eles não ficam inteiramente destituídos destas sementes de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência de dever. É a partir destas graças, pela operação do Espírito, que a certeza da salvação pode ser revivificada, no devido tempo; e, mediante elas, os crentes são auxiliados para não caírem em um desespero total.

CAPÍTULO XIX: DA LEI DE DEUS

1. Deus deu a Adão uma lei de obediência universal escrita em seu coração, e um particular preceito de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, como um pacto de obras, pelo qual Ele vinculou a ele e a toda sua posteridade, para pessoal, inteira, exata e perpétua obediência; prometeu vida sobre o cumprimento, e ameaçou com a morte a violação do mesmo; e o dotou com o poder e a capacidade para guarda-lo.

2. Essa lei, assim escrita no coração, continuou a ser uma regra perfeita de justiça após a queda do homem; e foi entregue por Deus no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas; os quatro primeiros mandamentos contêm o nosso dever para com Deus, e os outros seis, nosso dever para com o homem.

3. Além desta lei, comumente chamada de moral, Deus Se agradou em dar ao povo de Israel leis cerimoniais, contendo diversas ordenanças típicas, em parte, de adoração, prefigurando Cristo, Suas graças, ações, sofrimentos e benefícios; e, em parte, segurando estabelecendo várias instruções de deveres morais. Todas as leis cerimoniais, sendo impostas apenas até o tempo da reformação, são por Jesus Cristo, o Messias e único Legislador, que foi dotado com o poder da parte do Pai para este fim, cumpridas e revogadas.

4. Para eles, Ele também deu várias leis civis, que expiraram com a nação daquele povo, não obrigando a ninguém em virtude daquela instituição, somente sua equidade geral possui ainda um valor moral.

5. A lei moral obriga para sempre a todos, tanto pessoas justificadas como as demais, à obediência da mesma; e isso não apenas no que diz respeito à matéria nela contida, mas também no que diz respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Nem o Cristo no Evangelho de forma alguma a ab-roga, mas confirma esta obrigação.

6. Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou condenados; ainda é de grande utilidade para eles, assim como para os outros; em que, como uma regra de vida, informando-os sobre a vontade de Deus e de seu dever, ela dirige e os obriga a andar em conformidade; descobrindo também as contaminações pecaminosas de sua natureza, corações e vidas; assim como, examinando-se assim, eles podem chegar a mais convicção, humilhação por e ódio contra o pecado; juntamente com uma visão mais clara da necessidade que têm de Cristo e da perfeição da Sua obediência. Ela é, semelhantemente útil para os regenerados, para conter as suas corrupções, pois proíbe o pecado, e as ameaças daquela servem para mostrar até mesmo o que os seus pecados merecem, e que aflições nesta vida podem esperar por eles, embora libertados da maldição dos mesmos ameaçada na lei. As promessas daquela, de forma semelhante, demonstram a aprovação de Deus à obediência e quais bênçãos os homens podem esperar receber se cumprirem a lei; embora não lhes sejam devidas pela lei como um pacto de obras: assim como um homem faz o bem e evita o mal, porque a lei anima a um, e desencoraja o outro, não é evidência de que ele esteja debaixo da lei, e não debaixo da graça.

7. Nem são os supracitados usos da lei contrários à graça do Evangelho, mas suavemente condizem com ele: o Espírito de Cristo submete e habilita a vontade do homem a fazer livre e alegremente, o que a vontade de Deus, revelada na lei, exigiu que fosse feito.

CAPÍTULO XX: DO EVANGELHO E EXTENSÃO DE SUA GRAÇA

1. O pacto das obras foi quebrado pelo pecado, e tornou-se inútil para [conduzir à] vida, Deus Se agradou em conceder aos eleitos a promessa de Cristo, a semente da mulher, como o meio de chamá-los, e gerando neles a fé e o arrependimento: Nesta promessa a essência do Evangelho foi revelada, e feita eficaz para a conversão e salvação dos pecadores.

2. Esta promessa de Cristo, e da salvação por meio dEle, é revelada somente na e pela Palavra de Deus; nem as obras da criação ou providência, com a luz da natureza, desvelam a Cristo, ou a graça por meio dEle, tanto como de uma forma geral ou obscura; muito menos os homens destituídos da revelação dEle pela promessa ou evangelho, devem ser assim habilitados para alcançar a fé salvadora ou arrependimento.

3. A revelação do evangelho aos pecadores, feita em diversas épocas, e em partes diversas, com a adição de promessas e preceitos para a obediência nele exigidas, como para as nações e pessoas a quem é concedida, é apenas da vontade soberana e beneplácito de Deus, não sendo anexado em virtude de alguma promessa para o devido aprimoramento das habilidades naturais do homem, em virtude da luz comum recebida sem ela, o que ninguém jamais fez ou pode fazer desta forma. E, portanto, em todas as épocas, a pregação do evangelho foi concedida a pessoas e nações, como a extensão ou limitação do mesmo, em grande variedade, de acordo com o conselho da vontade de Deus.

4. Apesar do evangelho ser o único meio exterior de revelação de Cristo e graça salvadora, e é, como tal, para isso abundantemente suficiente; ainda assim, para que os homens que estão mortos em delitos possam nascer de novo, ser vivificados ou regenerados, é necessária uma obra eficaz, irresistível do Espírito Santo sobre toda a alma, para produzir neles uma nova vida espiritual, sem a qual nenhum outro meio é suficiente para a sua conversão a Deus.

CAPÍTULO XXI: DA LIBERDADE DO CRISTÃO, E LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA

1. A liberdade que Cristo comprou para os crentes sob o Evangelho consiste em sua liberdade da culpa do pecado, da ira condenatória de Deus, do rigor e maldição da lei; e consiste na libertação do presente século mau, escravidão de Satanás, do domínio do pecado, do mal das aflições, do temor e aguilhão da morte, da vitória da sepultura, e da condenação eterna; como também em seu livre acesso a Deus, e sua obediência prestada, não por medo servil, mas por amor filial, e uma mente voluntária. Tudo o que era comum também aos crentes sob a lei, pela substância delas; mas sob o Novo Testamento, a liberdade dos Cristãos é ainda mais ampliada em sua liberdade do jugo da lei cerimonial, toda a administração legal da aliança da graça, à qual a Igreja Judaica foi submetida; e na maior ousadia de acesso ao trono da graça, e nas comunicações mais plenas do livre Espírito de Deus, do que os crentes sob a lei ordinariamente participaram.

2. Deus é o único senhor da consciência, e a deixou livre de doutrinas e mandamentos humanos que, em qualquer respeito, são contrários à sua Palavra, ou não contidos nela; de modo que, crer em tais doutrinas, ou obedecer a tais mandamentos, por motivo de consciência, equivale a trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer de alguém uma fé implícita, e uma obediência absoluta e cega, equivale a destruir a liberdade de consciência, e a razão também.

3. Aqueles que, sob pretexto de liberdade Cristã, praticam qualquer pecado ou toleram qualquer concupiscência, com isso tanto deturpam o propósito principal da graça do evangelho para a própria destruição deles, como também destroem totalmente a finalidade da liberdade Cristã; a qual é, sendo libertados das mãos de nossos inimigos, podemos servir ao Senhor, sem temor, em santidade e justiça perante Ele, todos os dias da nossa vida.

CAPÍTULO XXII: DO CULTO RELIGIOSO E DO DIA DO SENHOR

1. A luz da natureza mostra que existe um Deus, que tem senhorio e soberania sobre tudo; [que Ele] é justo, bom, e faz bem a todos; e, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido com todo o coração, e com toda a alma e com toda a força. Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado por Sua própria vontade revelada, de forma que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou qualquer outro modo não prescrito na Sagrada Escritura.

2. O culto religioso deve ser dado a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e somente a Ele: não a anjos, santos, ou qualquer outra criatura, e desde a Queda, não sem um Mediador; nem na mediação de qualquer outro senão de Cristo.

3. A oração com ações de graças, sendo uma especial parte natural da adoração, é por Deus exigida de todos os homens; mas para que possa ser aceita, deve ser feita em nome do Filho, com a ajuda de Seu Espírito, segundo a Sua vontade, com entendimento, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança; e, quando com outros, em uma língua conhecida.

4. A oração deve ser feita por coisas lícitas, e por todos os tipos de homens vivos, ou que ainda viverão; mas não pelos mortos, nem por aqueles de quem possa ser conhecido que pecaram o pecado para a morte.

5. A leitura das Escrituras, pregação, e atenção à Palavra de Deus, o cantar salmos; bem como a administração do Batismo e Ceia do Senhor, são todas partes do culto religioso a Deus, a serem realizados em obediência a Deus, com entendimento, fé, reverência, e temor piedoso. Solene humilhação, com jejuns e ações de graças em ocasiões especiais; devem, em seus vários tempos e ocasiões, ser usados de um modo santo e religioso.

6. Nem oração, nem qualquer outra parte do culto religioso, é agora, sob o evangelho, nem restrita, ou feita mais aceitável devido a qualquer local em que é realizada, ou para o qual é dirigida, mas Deus deve adorado em todo lugar, em espírito e em verdade; tanto no cotidiano de famílias privadas, e em secreto, cada um por si, e muito mais solenemente em assembleias públicas, que não devem ser, descuidada ou deliberadamente, negligenciadas ou abandonadas, quando Deus, pela Sua Palavra ou providência, nos conclama a presta-lo.

7. Como é a lei da natureza, que, em geral, uma proporção do tempo, pelo desígnio de Deus, seja destinada ao culto de Deus; assim, pela Palavra, em um preceito positivo, moral e perpétuo, ordena a todos os homens em todas as eras, Ele particularmente nomeou um dia em sete para um descanso, para ser-Lhe santificado; e, desde o início do mundo até a ressurreição de Cristo, foi o último dia da semana; e, a partir da ressurreição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, o que na Escritura é chamado de Dia do Senhor, e deve continuar até o fim do mundo como o Sábado Cristão; sendo abolida a observação do último dia da semana.

8. Este Shabath é assim santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações, e ordenação os seus assuntos comuns de antemão, não apenas observam um santo descanso todo o dia a partir de suas próprias obras, palavras e pensamentos sobre suas ocupações e recreações mundanas; mas também dedicam todo o tempo em exercícios públicos e privados de Seu culto e nos deveres de necessidade e misericórdia.

CAPÍTULO XXIII: DOS JURAMENTOS LEGAIS E DOS VOTOS

1. O juramento lícito é uma parte do culto religioso, no qual a pessoa, jurando em verdade, justiça e juízo, solenemente chama a Deus por testemunha do que assevera ou promete; e julgá-lo de acordo com a verdade ou falsidade do que jura.

2. É somente pelo nome de Deus que os homens devem jurar, e este deve ser usado com todo o santo temor e reverência; pois, jurar em vão, ou, temerariamente, por esse nome glorioso e terrível, ou jurar por qualquer outra coisa, é pecado, e abominável. No entanto, como, em matéria de peso e momento, um juramento é autorizado pela Palavra de Deus, sob o Novo Testamento, bem como sob o Velho, como um juramento legal, sendo exigido pela autoridade legal, em tais assuntos deve ser feito.

3. Todo aquele que prestará um juramento, garantido pela Palavra de Deus, deve considerar refletidamente a gravidade de um ato tão solene, e que nesse nada afirme senão o que ele está certíssimo ser a verdade. Nem pode qualquer homem ligar-se por juramento a qualquer coisa, senão ao que é bom e justo, e ao que ele crê assim ser, e ao que ele é capaz e resolveu cumprir. No entanto, é um pecado recusar um juramento acerca de qualquer coisa que é boa e justa, sendo legalmente exigido por autoridade.

4. Um juramento deve ser tomado no sentido claro e óbvio das palavras, sem equívoco ou reserva mental. Ele não pode obrigar a pecar; mas em qualquer coisa não pecaminosa, sendo tomado, ordena o cumprimento, mesmo que para a própria dor de um homem: nem deve ser violado, ainda que feito a hereges ou infiéis.

5. Um voto, não deve ser feito a qualquer criatura, mas a Deus somente, é de semelhante natureza que o juramento promissório, e deve ser feito com o semelhante cuidado religioso, e deve ser executado com semelhante fidelidade.

6. Os votos monásticos que os papistas fazem de celibato perpétuo, pobreza professa e obediência regular, em vez serem graus de mais elevada perfeição, não passam de laços supersticiosos e pecaminosos, nos quais nenhum Cristão deve enredar-se.

CAPÍTULO XXIV: DO MAGISTRADO CIVIL

1. Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, ordenou os magistrados civis para que estejam sob Ele sobre o povo, para a Sua própria glória e para o bem público; e para este fim, os armou com o poder da espada, para a defesa e incentivo dos que fazem o bem, e para castigo dos malfeitores.

2. É legal que os cristãos aceitem e exerçam o ofício de magistrado, quando chamados a isso; e em sua administração, como eles devem especialmente manter a justiça e paz, segundo todas as leis de cada comunidade, de modo que, para esse efeito, podem legalmente, agora sob o Novo Testamento, empreender guerra em ocasião justa e necessária.

3. Embora o magistrado seja obrigado a incentivar, promover e proteger os professos e profissão do evangelho, e gerir e ordenar administrações civis em uma subserviência devido ao interesse de Cristo no mundo, e para isso tomar cuidado para que homens corruptos de entendimento e conversas, licenciosamente não publiquem e divulguem blasfêmia e erros, por sua própria natureza, subvertendo a fé e, inevitavelmente destruam as almas dos que os recebem, ainda assim, em tais diferenças sobre as doutrinas do evangelho, ou formas de culto de Deus, como possa acontecer que homens exercendo uma boa consciência, manifestando-o em sua conversa, e segurando a fundação, não incomodar os outros em suas maneiras ou culto que diferem a partir deles; não há nenhuma garantia para o magistrado sob o evangelho para diminuir-lhes a sua liberdade.

4. É dever das pessoas orar pelos magistrados, honrarem as suas pessoas, pagar-lhes tributos e outros encargos, obedecer a suas ordens legais, e em se submeter à sua autoridade, por causa da consciência. Infidelidade, ou a diferença na religião, não anula a autoridade justa e legal do magistrado, nem livra as pessoas de sua obediência a ele; do que as pessoas eclesiásticas não estão isentas; muito menos tem o Papa qualquer poder ou jurisdição sobre eles em seus domínios, ou por qualquer um de seu povo; e muito menos de privá-los dos seus domínios ou vidas, por julgá-los hereges ou sob qualquer outro pretexto.

CAPÍTULO XXV: DO MATRIMÔNIO

1. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher: nem é lícito ao homem ter mais de uma esposa, nem à mulher ter mais de um marido ao mesmo tempo.

2. O casamento foi ordenado para o auxílio mútuo entre marido e mulher; para a propagação da humanidade por uma sucessão legítima, e da Igreja por uma semente santa; e para impedir a impureza.

3. O casamento é lícito para todos os tipos de pessoas, desde que possam dar o seu consentimento racional. No entanto, é o dever dos Cristãos casarem-se somente no Senhor. E, portanto, como professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, Papistas ou outros idólatras; nem devem, como são piedosos estar em jugo desigual, casando-se com os que são ímpios em suas vidas, ou defenda heresias condenáveis.

4. Não devem casar-se pessoas entre as quais existam graus de parentesco ou consanguinidade que sejam proibidos na Palavra de Deus. As uniões incestuosas jamais poderão ser legitimadas por qualquer lei humana ou pelo consentimento das partes, pois não é correto tais pessoas viverem juntas, como marido e mulher.

CAPÍTULO XXVI: DA IGREJA

1. A Igreja católica ou universal, que é invisível, consiste de todo o número dos eleitos, que foram, são ou serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, a Cabeça da mesma; ela é a Esposa, o Corpo, a plenitude Daquele que enche tudo em todos.

2. Todo o corpo de homens em todo o mundo, que professam a fé do evangelho e obediência a Deus por meio de Cristo, de acordo com isso, não arruinando a sua própria profissão por quaisquer erros de subversão do fundamento, ou impureza de conversação, é, e pode ser chamada de igreja católica visível de Cristo; embora, como tal, não é responsável pela administração de qualquer das ordenanças, ou tenha quaisquer oficiais para normatizar ou governar em ou sobre o corpo todo.

3. As Igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas tanto à mistura e ao erro, e algumas tanto se degeneraram a ponto de tornarem-se não mais Igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; no entanto, Cristo sempre tem tido, e sempre terá, um reino visível neste mundo, até o fim deste, para aqueles que creem nEle, e fazem profissão de Seu nome.

4. Não há outro cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo: tampouco pode o Papa de Roma, em qualquer sentido é o cabeça dela; mas é aquele anticristo, o homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus, a quem o Senhor destruirá com o esplendor de Sua vinda.

5. Como o Senhor, em Seu cuidado e amor para com a Sua Igreja, tem em Sua infinita e sábia providência exercido isso, com grande variedade em todas as eras, para o bem daqueles que O amam, e para a Sua própria glória; assim de acordo com a Sua promessa, esperamos que nos últimos dias, o Anticristo sendo destruído, os Judeus chamados, e os adversários do reino do Seu Filho amado arruinados, as igrejas de Cristo sendo ampliadas, e edificadas através de uma comunicação livre e abundante de luz e graça, gozarão neste mundo uma condição mais tranquila, pacífica e gloriosa.

CAPÍTULO XXVII: DA COMUNHÃO DOS SANTOS

1. Todos os santos são unidos a Jesus Cristo, seu Cabeça, pelo seu Espírito e pela fé, muito embora isso não os torne uma só pessoa com Ele, temos comunhão com Ele em Suas graças, sofrimentos, morte, ressurreição e glória, e, estando unidos uns aos outros em amor, eles têm comunhão com os mesmos dons e graças, e são obrigados ao cumprimento de tais deveres, públicos e privados, assim como contribuírem para seu bem mútuo, tanto no homem interior e exterior.

2. Todos os santos são obrigados a manter uma santa associação e comunhão no culto de Deus, e na realização de outros serviços espirituais, que tendem a sua mútua edificação; como também no alívio de uns aos outros em coisas materiais, de acordo com suas diversas capacidades e necessidades. Esta comunhão, embora deva ser exercida especialmente no âmbito familiar e das igrejas, ainda assim, conforme Deus oferecer oportunidade, deve ser estendida a todos os que, em todo lugar, invocam o nome do Senhor Jesus.

CAPÍTULO XXVIII: DOS SACRAMENTOS

1. Os sacramentos são santos sinais e selos da aliança da graça, imediatamente instituídos por Cristo, para representa-lo e os Seus benefícios e confirmar o nosso interesse Nele; e solenemente para nos comprometer ao serviço de Deus em Cristo, de acordo com Sua Palavra.

2. Há em cada sacramento uma relação espiritual ou união sacramental entre o sinal e a coisa significada; por isso ocorre que os nomes e os efeitos de um são atribuídos ao outro.

3. A graça que é exibida em ou por meio dos sacramentos, usada corretamente, não é conferida por qualquer poder neles; nem a eficácia de um sacramento depende da piedade ou intenção daquele que o administra, mas depende da obra do Espírito, e da palavra de instituição, que contém, juntamente com o preceito que autoriza o uso dos mesmos, uma promessa de benefício para os receptores dignos.

4. Há apenas dois sacramentos ordenados por Cristo, nosso Senhor, no evangelho, isto é, o Batismo e a Ceia do Senhor: nenhum dos quais pode ser dispensado por qualquer, senão por um ministro da Palavra, legalmente vocacionado.

5. Os sacramentos do Velho Testamento, a respeito das coisas espirituais por eles significadas e representadas, eram em substância, os mesmos do Novo.

CAPÍTULO XXVIX: DO BATISMO

1. Batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, sendo para a pessoa batizada um sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da remissão dos pecados, e da sua consagração a Deus, através de Jesus Cristo, para andar em novidade de vida; esta ordenança, pela própria nomeação de Cristo, deve continuar em Sua Igreja até o fim do mundo.

2. O elemento exterior a ser usado nesta ordenança é a água, com a qual a pessoa deve ser batizada em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, por um ministro do Evangelho, legalmente vocacionado.

3. Não é necessário mergulhar a pessoa em água; mas o batismo é devidamente administrado por efusão ou aspersão de água sobre a pessoa.

4. Não apenas aqueles que efetivamente professam fé e obediência a Cristo, mas também os filhos de um ou ambos os pais crentes devem ser batizados, e estes somente.

5. Embora seja um grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, ainda assim, a graça e a salvação não são tão inseparavelmente vinculadas a ela como que nenhuma pessoa possa ser regenerada ou salva sem ela, ou que todos os que são batizados são, sem dúvida, regenerados.

6. A eficácia do batismo não está vinculada a esse momento no tempo em que é administrado; ainda assim, não obstante, com o uso desta ordenança a graça prometida é não somente oferecida, mas realmente manifestada e conferida pelo Espírito Santo, para tal (sejam adultos ou crianças), como a quem a graça pertence, de acordo com o conselho da própria vontade de Deus, em seu tempo determinado.

7. O Batismo deve ser apenas uma vez administrado a qualquer pessoa.

CAPÍTULO XXX: DA CEIA DO SENHOR

1. Nosso Senhor Jesus, na noite em que foi traído, instituiu o sacramento de Seu corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, a ser observado em suas igrejas até o fim do mundo; para lembrança perpétua e demonstração do sacrifício de Si mesmo em Sua morte, o selar de todos os benefícios dos mesmos aos verdadeiros crentes, seu alimento espiritual e crescimento nEle, seu maior envolvimento em todos os deveres deles para com Ele; e ser um vínculo e penhor de sua comunhão com Ele e uns com os outros.

2. Neste sacramento Cristo não é oferecido ao Pai, nem qualquer sacrifício real é feito de modo algum para remissão dos pecados dos vivos ou mortos, mas um memorial daquela oferta única de Si mesmo na cruz, de uma vez por todas, e uma oblação espiritual de todo o louvor possível a Deus pelo mesmo; de modo que o sacrifício papal da missa, como eles chamam, é a mais abominável injúria ao próprio único sacrifício de Cristo, a única propiciação por todos os pecados dos eleitos.

3. O Senhor Jesus, nesta ordenança, nomeou seus ministros para orar e abençoar os elementos do pão e do vinho, e, assim, separá-los a partir de um uso comum para um uso sagrado; e tomar e partir o pão, tomar o cálice, e (eles também participando) para oferecer ambos aos comungantes; mas a nenhum deles que não estejam, nessa ocasião, presentes na congregação.

4. Missas privadas, ou receber este sacramento por um sacerdote, ou qualquer outro, por si só; como também a negação do cálice ao povo; adoração dos elementos, o levantá-los, ou carregá-los em adoração, e reserva-los para qualquer pretenso uso religioso, são todos contrários à natureza deste sacramento e à instituição de Cristo.

5. Os elementos exteriores deste sacramento, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal relação com Ele crucificado, como que realmente, mas apenas sacramentalmente, são às vezes chamados pelo nome das coisas que representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo; ainda que, em substância e natureza, eles ainda permaneçam verdadeiramente, e somente, pão e vinho, como eram antes.

6. Aquela doutrina que sustenta uma mudança da substância do pão e do vinho, na substância do corpo de Cristo e do sangue (comumente chamado de transubstanciação) pela consagração de um sacerdote, ou por qualquer outra forma, é repugnante, não somente às Escrituras, mas até mesmo para o bom senso e razão; destrói a natureza do sacramento; e tem sido, e é, a causa de superstições múltiplas, sim, de idolatrias grosseiras.

7. Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, em seguida, também interiormente pela fé, realmente e de fato, não de maneira carnal e corporalmente, mas espiritualmente, recebem e alimentam-se de Cristo crucificado, e todos os benefícios de Sua morte; o corpo e Sangue de Cristo não sendo corporal ou carnal em, com ou sob o pão e o vinho; ainda assim como que realmente, mas espiritualmente, presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos exteriores.

8. Todas as pessoas ignorantes e ímpias, como eles são incapazes de desfrutar de comunhão com Cristo, são também indignos da mesa do Senhor, e não podem, sem grande pecado contra Ele, enquanto eles permanecem assim, participar destes santos mistérios, ou ser admitido a eles, sim, quem receber indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor, comendo e bebendo juízo para si mesmo.

CAPÍTULO XXXI: DO ESTADO DO HOMEM APÓS A MORTE E DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

1. Os corpos dos homens, depois da morte, voltam ao pó, e vêm à corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem dormem), tendo uma substância imortal, retornam imediatamente para Deus que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde veem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde permanecem em tormento e trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia. Além destes dois lugares destinados às almas separadas de seus corpos as Escrituras não reconhecem nenhum outro.

2. No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão transformados e todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos, e não outros, embora com qualidades diferentes, que serão novamente unidos às suas almas para sempre.

3. Os corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para a desonra; os corpos dos justos, pelo Seu Espírito, para honra e para serem semelhantes ao Seu próprio corpo glorioso.

CAPÍTULO XXXII: DO JUÍZO FINAL

1. Deus tem determinado um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de Jesus Cristo, a quem todo o poder e julgamento é dado pelo Pai. Naquele dia, não só os anjos apóstatas serão julgados; mas também todas as pessoas, que viveram sobre a terra devem comparecer perante o tribunal de Cristo, para darem conta de seus pensamentos, palavras e ações; e receberem de acordo com o que eles fizeram no corpo, seja bom ou mal.

2. O propósito de Deus, ao estabelecer esse dia, consiste em manifestar a glória de sua misericórdia na salvação eterna dos eleitos; e de Sua justiça na condenação dos réprobos, que são perversos e desobedientes. Pois, então os justos irão para a vida eterna e receberão aquela plenitude de gozo e glória, com eterno galardão na presença do Senhor, mas os ímpios, que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, serão lançados nos tormentos eternos, e serão punidos com eterna destruição, a partir da presença do Senhor, e da glória do seu poder.

3. Cristo deseja que estejamos bem persuadidos de que haverá um dia de juízo, para que os homens se afastem do pecado, e para maior consolação dos piedosos em sua adversidade; Assim Ele manterá esse dia desconhecido para os homens, para que possam estar livres de toda a segurança carnal, e estar sempre vigilantes, porque não sabemos a que hora o Senhor virá; e que possamos estar sempre preparados para dizer: Vem, Senhor Jesus, vem depressa. Amém.