Confissão Positiva

A confissão positiva, popularmente associada ao movimento da fé ou “teologia da prosperidade”, ensina que as palavras que proferimos possuem o poder de criar realidades. De acordo com esse ensino, ao confessar positivamente algo — seja saúde, riqueza ou sucesso —, o crente pode “chamar à existência” essas bênçãos. Entretanto, a doutrina reformada rejeita essa prática, considerando-a uma distorção do ensino bíblico sobre fé e providência divina.

A Confissão Positiva e Suas Origens

O conceito de confissão positiva emergiu no século XX, influenciado pelo Novo Pensamento e pelo movimento carismático. Ele prega que o crente tem autoridade de “declarar” a realidade desejada, e Deus estaria vinculado a essas palavras. Essa prática parte de uma compreensão errada de versículos como Marcos 11:23-24 (“tudo o que disser… crer que se fará”), que é isolado de seu contexto, sendo transformado em um dogma de poder humano sobre o divino.

A Doutrina Reformada e a Soberania de Deus

No cerne da refutação da confissão positiva está a doutrina reformada da soberania de Deus. A tradição reformada sustenta que Deus governa absolutamente sobre toda a criação, determinando cada detalhe segundo Sua vontade eterna e imutável (Isaías 46:10; Efésios 1:11). A confissão positiva, ao colocar o poder criativo nas mãos dos homens, desloca o controle da providência divina para as palavras e desejos humanos. A confissão reformada, especialmente através dos ensinos de João Calvino, enfatiza que os crentes devem submeter-se à vontade de Deus em todas as coisas. Não é nosso papel decretar ou reivindicar bênçãos com base em palavras ou declarações; em vez disso, devemos orar com confiança humilde, reconhecendo que Deus concede segundo Sua vontade perfeita (1 João 5:14-15). Calvino afirmou que “nada é mais adequado ao crente do que depender completamente de Deus e de Sua bondade”.

O Problema da Fé Condicionada

Outro ponto problemático da confissão positiva é sua visão de que a fé é uma “ferramenta” para adquirir o que se deseja. Na teologia reformada, a fé é a confiança em Cristo e em Suas promessas, não um meio de manipular Deus para realizar nossos desejos. A verdadeira fé repousa na soberania e bondade de Deus, independentemente das circunstâncias externas (Romanos 8:28). A teologia da confissão positiva tende a reduzir a fé a um tipo de barganha com Deus, onde, se o crente confessar corretamente e tiver fé suficiente, Deus será “obrigado” a conceder o que foi pedido. Isso transforma Deus em um servo da vontade humana, contrariando a visão reformada de Deus como Rei soberano.

Sofrimento e Providência

Um aspecto central da confissão positiva é sua rejeição do sofrimento como parte da vida cristã. O ensino sugere que a falta de saúde, riqueza ou sucesso é um sinal de falta de fé ou de confissões erradas. No entanto, a Bíblia nos ensina que o sofrimento faz parte da experiência cristã e que Deus pode usá-lo para nos moldar à semelhança de Cristo (Romanos 5:3-5; Tiago 1:2-4). Na tradição reformada, o sofrimento é visto como uma ferramenta na mão de Deus para santificação e crescimento espiritual. Os crentes são chamados a suportar o sofrimento com paciência e a confiar em Deus, sabendo que Ele tem um propósito soberano para todas as coisas, inclusive a dor e as dificuldades (1 Pedro 4:12-13).

Conclusão

A confissão positiva falha em entender corretamente a relação entre Deus e Seu povo. Ao deslocar a soberania de Deus para o poder das palavras humanas, ela nega a essência do cristianismo reformado, que reconhece Deus como o único Senhor sobre todas as coisas. Em vez de usar palavras como ferramentas de poder, os crentes reformados devem se aproximar de Deus em oração, confiando humildemente em Sua vontade soberana e perfeita. O verdadeiro poder da fé não está em palavras humanas, mas no Deus soberano que ouve e responde conforme Seu propósito eterno.