A teologia reformada, embasada nas Escrituras e na tradição protestante, defende uma compreensão clara sobre as nações e o povo de Deus. Entre os diversos debates teológicos e ideológicos que surgiram ao longo dos séculos, um dos temas mais controversos no cenário atual é o anti-sionismo, muitas vezes mascarado como uma forma de antissemitismo. Para entender essa questão, precisamos primeiro considerar o papel de Israel nas Escrituras, a relação entre a Igreja e o povo judeu, e a justiça social que a Bíblia ordena.
A singularidade de Israel no plano de Deus
Desde o chamado de Abraão, vemos que Israel ocupa um papel especial na história da redenção. O apóstolo Paulo, em Romanos 9, expressa claramente a importância de Israel, afirmando: “Deles são os patriarcas; e deles, quanto à carne, veio Cristo, que é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9:5). Israel foi o veículo através do qual Deus revelou a Sua vontade, a Lei e, finalmente, trouxe o Salvador ao mundo. A teologia reformada, especialmente em sua perspectiva pactual, enxerga Israel como parte do plano redentivo de Deus, mas também aponta para o cumprimento de Suas promessas na pessoa de Cristo e na expansão do Reino de Deus para incluir os gentios. O que precisamos reconhecer, porém, é que essa inclusão não anula o valor de Israel enquanto nação no plano divino. Portanto, qualquer postura que negue o direito de Israel existir como povo e nação deve ser vista com cuidado.
O antissionismo e sua relação com o antissemitismo
O anti-sionismo é frequentemente definido como oposição ao movimento sionista, que buscou estabelecer um Estado judaico na Terra de Israel. No entanto, o que começa como uma crítica política à existência ou ações do Estado de Israel muitas vezes ultrapassa essa fronteira e se transforma em um ataque generalizado ao povo judeu. Quando o antissionismo propaga a ideia de que os judeus, como povo, não têm o direito de habitar em sua terra ancestral ou de se defender, ele entra perigosamente no território do antissemitismo. O antissemitismo é uma das formas mais antigas e persistentes de ódio, remontando aos tempos bíblicos. Nos últimos séculos, ele se manifestou de maneiras terríveis, incluindo perseguições, expulsões e o Holocausto. Hoje, o antissionismo é muitas vezes um disfarce moderno para esse mesmo preconceito. Quando vemos protestos contra o Estado de Israel se transformarem em ataques a sinagogas, vandalismo e violência contra judeus em várias partes do mundo, isso expõe a verdadeira natureza desse fenômeno.
A justiça bíblica e a postura cristã
A doutrina reformada sempre sustentou um alto padrão de justiça social, uma vez que Deus é justo e chama Seu povo a agir com retidão em todas as esferas da vida. Como cristãos, somos chamados a nos posicionar contra qualquer forma de injustiça, e isso inclui o antissemitismo, seja ele explícito ou disfarçado. O mandamento de amar ao próximo como a nós mesmos (Mateus 22:39) se estende a todas as nações, incluindo o povo judeu, que foi, historicamente, alvo de ódio e perseguição. A oposição legítima às políticas de um governo não deve ser confundida com a negação do direito de um povo existir. Israel, como qualquer outro Estado, está sujeito à crítica, mas o anti-sionismo que busca sua destruição ou que demoniza os judeus globalmente não pode ser visto como uma crítica política justa. Ele se torna uma forma de pecado contra o próximo, violando os princípios de justiça e misericórdia que a doutrina reformada tanto preza.
O papel do cristão reformado diante do antissionismo
Como cristãos reformados, devemos ser vigilantes e discernir quando uma crítica política se transforma em preconceito religioso e étnico. O apóstolo Paulo, em Gálatas 3:28, nos lembra que “não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos sois um em Cristo Jesus”. Essa unidade espiritual não significa que diferenças étnicas, culturais ou políticas devem ser abolidas, mas que devemos respeitar a dignidade e os direitos de todos os povos. Portanto, quando nos deparamos com o anti-sionismo disfarçado de antissemitismo, devemos nos levantar contra essa injustiça, assim como faríamos contra qualquer forma de racismo ou opressão. Devemos nos opor a discursos que neguem a dignidade do povo judeu e que alimentem o ódio, lembrando que o nosso chamado é para sermos luz em um mundo em trevas.
Conclusão
O anti-sionismo, quando ultrapassa a crítica legítima e se transforma em uma negação do direito do povo judeu de existir e se defender, nada mais é do que antissemitismo mascarado. Como cristãos reformados, somos chamados a defender a verdade, a justiça e a dignidade humana. Portanto, devemos reconhecer o perigo do anti-sionismo e combater qualquer forma de ódio contra o povo judeu, enquanto seguimos proclamando o Evangelho de Cristo, que oferece salvação tanto para judeus quanto para gentios. Que Deus nos dê sabedoria para discernir e coragem para agir, sempre com base na Sua Palavra.