Nos últimos anos, a ideologia woke tem ganhado destaque na sociedade contemporânea. O termo, derivado do verbo inglês wake (acordar), inicialmente apontava para uma conscientização sobre desigualdades e injustiças sociais. Contudo, com o tempo, a ideologia woke passou a englobar uma visão de mundo que muitas vezes coloca a experiência subjetiva como fundamento da verdade e promove narrativas que podem conflitar com a cosmovisão bíblica. Este artigo busca, com base na teologia reformada, refletir criticamente sobre os pontos de divergência entre essas duas perspectivas.
O Fundamento da Verdade
A teologia reformada baseia-se na doutrina da Sola Scriptura, ou seja, que a Escritura é a única regra infalível de fé e prática. Em contrapartida, a ideologia woke tende a relativizar a verdade, substituindo-a pela subjetividade das experiências individuais e narrativas culturais. Essa relativização é explicitamente contrária à visão reformada, que ensina que a verdade é objetiva, revelada por Deus na Sua Palavra (João 17:17).
Enquanto a cosmovisão woke frequentemente promove a ideia de que a verdade é moldada pela identidade social ou pela posição de poder de um indivíduo, a teologia reformada afirma que todos os seres humanos estão igualmente debaixo da autoridade divina, independentemente de classe, gênero ou etnia (Gálatas 3:28).
A Condição Humana e o Pecado Original
A ideologia woke frequentemente diagnostica as desigualdades sociais como resultado exclusivo de estruturas de poder opressoras. Contudo, a teologia reformada identifica o pecado original como a causa última de toda injustiça e desordem no mundo. Conforme Romanos 3:23, “todos pecaram e carecem da glória de Deus”, indicando que não há grupos ou indivíduos moralmente superiores por causa de suas circunstâncias sociais.
A ideologia woke, por outro lado, pode cair em um moralismo que demoniza certos grupos, considerando-os inerentemente opressores, enquanto exalta outros como moralmente justos apenas com base em sua posição na hierarquia social. Essa abordagem nega a doutrina da depravação total, que ensina que todos os seres humanos são igualmente pecadores e necessitam da redenção em Cristo (Efésios 2:1-5).
Justiça: Humana e Divina
Um dos temas centrais da ideologia woke é a busca por justiça social. No entanto, essa busca frequentemente coloca o homem como o árbitro final de justiça. Em contraste, a teologia reformada ensina que a verdadeira justiça é definida e administrada por Deus. “O Senhor é justo, Ele ama a justiça; os retos verão a sua face” (Salmo 11:7).
Embora os cristãos sejam chamados a agir com misericórdia e promover a justiça (Miqueias 6:8), isso deve ser feito à luz do evangelho e com uma compreensão de que a justiça final será plenamente realizada apenas na consumação do reino de Deus. A ideologia woke, ao priorizar a justiça imediata sem considerar o plano redentivo de Deus, pode levar a ações que são mais retributivas do que redentoras.
Identidade e Unidade em Cristo
A ideologia woke frequentemente divide as pessoas em categorias de opressores e oprimidos com base em raça, gênero ou classe social. Isso contrasta diretamente com a teologia reformada, que ensina que a verdadeira identidade do cristão está em Cristo, e não em categorias terrenas. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17).
Além disso, a Escritura ensina que a igreja é o corpo de Cristo, unindo pessoas de todas as origens em uma comunhão que transcende barreiras sociais e culturais (Efésios 2:14-16). Divisões baseadas em identidades terrenas são incompatíveis com a unidade que Cristo estabeleceu na cruz.
Conclusão: Chamados para um Contraponto Bíblico
A ideologia woke apresenta uma visão de mundo que, embora tenha elementos de preocupação legítima com a injustiça, falha ao ignorar o ensino bíblico sobre a condição humana, a fonte da verdade e a natureza da justiça. Para o cristão reformado, é fundamental abordar questões sociais com a lente da Escritura, proclamando a necessidade da redenção em Cristo e promovendo uma justiça fundamentada no caráter de Deus.
Como reformados, devemos lembrar que a transformação social verdadeira não será alcançada pela substituição de estruturas de poder, mas pela proclamação do evangelho, que transforma corações e mentes para a glória de Deus. Em Cristo, encontramos a solução para as divisões humanas, pois Ele é a nossa paz (Efésios 2:14).