A Congregação Cristã no Brasil: Análise da Doutrina à Luz do Protestantismo Reformado

A Congregação Cristã no Brasil: Análise da Doutrina à Luz do Protestantismo Reformado

A Congregação Cristã no Brasil (CCB) é um grupo religioso que surgiu no início do século XX, fundado por Louis Francescon, e se tornou uma das maiores denominações no Brasil. Embora seja popular, sua doutrina e práticas se afastam significativamente dos princípios fundamentais do Cristianismo Reformado. A partir de uma perspectiva reformada, a CCB pode ser considerada uma seita, pois seus ensinos apresentam desvios significativos dos pilares teológicos centrais do cristianismo ortodoxo. A seguir, abordaremos alguns dos pontos principais que sustentam essa análise.

  1. Rejeição à Doutrina da Sola Scriptura

A Sola Scriptura (Somente a Escritura) é um dos pilares fundamentais da teologia reformada e do protestantismo em geral. Segundo esse princípio, a Bíblia é a única autoridade infalível em matéria de fé e prática. No entanto, a Congregação Cristã no Brasil adota uma postura de dependência do Espírito Santo para guiar suas práticas e doutrinas, muitas vezes alegando novas revelações diretas. Isso pode implicar na marginalização do estudo teológico e bíblico estruturado, e na dependência excessiva da experiência subjetiva, o que fere o conceito da Escritura como única regra de fé e prática. A falta de ênfase em teologia sistemática e estudo bíblico profundo dentro da CCB também vai contra a tradição reformada, que valoriza o estudo diligente das Escrituras.

  1. Exclusivismo Soteriológico

A CCB adota uma postura de exclusividade quanto à salvação, frequentemente sugerindo que apenas os membros da sua denominação estão verdadeiramente salvos. Eles se veem como a única igreja verdadeira, o que contraria o ensino reformado da igreja universal, que crê que a salvação se dá unicamente pela graça de Deus por meio da fé em Cristo, e não pela afiliação a uma denominação específica. O exclusivismo da CCB pode ser visto como um tipo de sectarismo, onde a salvação é monopolizada por um grupo específico, enquanto a tradição reformada ensina que o corpo de Cristo é composto por todos os crentes genuínos ao redor do mundo, independentemente de afiliação denominacional.

  1. Doutrina do Batismo Regeneracional

A CCB ensina uma forma de batismo regeneracional, ou seja, que o batismo em água é necessário para a salvação, uma crença que vai contra a doutrina reformada da Sola Fide (Somente a Fé). A teologia reformada ensina que a salvação é pela graça mediante a fé, independentemente de ritos ou sacramentos. O batismo é visto como um sinal externo e visível da graça interna e invisível já recebida, mas não como o próprio meio de salvação. Ao associar o ato do batismo com a salvação, a CCB acaba contradizendo o ensinamento central da justificação pela fé, um dos alicerces da Reforma Protestante.

  1. Desprezo pela Educação Teológica Formal

Um dos aspectos notáveis da CCB é seu desprezo pela educação teológica formal, incluindo seminários e faculdades teológicas. Eles acreditam que o Espírito Santo capacita diretamente os líderes da igreja e que o estudo acadêmico da Bíblia não é necessário, e até mesmo desencorajado. Isso contrasta fortemente com a tradição reformada, que valoriza profundamente o treinamento teológico formal para pastores e mestres, a fim de garantir o ensino correto e fiel das Escrituras. A tradição reformada segue o exemplo dos reformadores, como João Calvino, que promoveu a formação teológica como um meio de proteger a igreja contra heresias e falsas doutrinas.

  1. Visão Pobre da Justificação e da Santificação

A Congregação Cristã no Brasil adota uma visão confusa de justificação e santificação, que frequentemente mescla obras e graça no processo de salvação. A teologia reformada ensina claramente que a justificação é um ato judicial de Deus, pelo qual Ele declara o pecador justo com base na obra redentora de Cristo. A santificação é o processo subsequente de crescimento em santidade, fruto da regeneração operada pelo Espírito Santo. Na CCB, há uma tendência de vincular a salvação à conduta moral, o que, para os reformados, é uma distorção do evangelho, pois implica em um sistema de salvação baseado no desempenho humano e não exclusivamente na obra completa de Cristo.

  1. Falta de Centralidade em Cristo

A doutrina reformada é fundamentalmente centrada em Cristo, na sua obra expiatória e ressurreição como a única esperança de salvação. No entanto, os ensinos da CCB muitas vezes deslocam essa centralidade para aspectos comportamentais ou práticas religiosas, como o uso de vestimentas específicas, batismo e exclusivismo denominacional. Essa falta de foco exclusivo em Cristo é um sinal de desvio teológico, pois, para os reformados, qualquer sistema que diminua a suficiência de Cristo e acrescente requisitos humanos à salvação pode ser considerado uma forma de legalismo ou seita.

  1. Autoritarismo e Exclusividade no Governo da Igreja

A liderança na CCB é altamente centralizada e, em alguns casos, autoritária. Eles se referem aos seus anciãos e líderes com um respeito quase irrestrito, muitas vezes sem permitir questionamento doutrinário. Essa estrutura eclesiástica rígida, aliada ao sentimento de exclusividade espiritual, faz com que a CCB se aproxime de características sectárias. Na tradição reformada, embora haja respeito pela liderança eclesiástica, a ênfase está na autoridade final das Escrituras e na responsabilidade mútua dentro da congregação.

Conclusão

Sob a perspectiva da teologia reformada, a Congregação Cristã no Brasil pode ser classificada como uma seita, pois apresenta desvios significativos em relação aos pilares fundamentais da fé cristã reformada, como a Sola Scriptura, Sola Fide e a suficiência de Cristo para a salvação. Ao ensinar doutrinas que acrescentam exigências humanas para a salvação e ao adotar uma postura exclusivista, a CCB se afasta das crenças ortodoxas do Cristianismo histórico. Para os cristãos reformados, é crucial discernir esses desvios e buscar uma fé que esteja firmemente enraizada na Palavra de Deus, exaltando a graça soberana e suficiente de Cristo para a salvação.