Desconstruindo The Chosen: A Diferença entre o Jesus da Série e o Jesus das Escrituras

A série The Chosen, dirigida por Dallas Jenkins, tem ganhado enorme popularidade ao contar a história de Jesus Cristo e seus discípulos de maneira dramatizada. Embora o projeto tenha sido elogiado por seu apelo emocional e alcance, muitos teólogos reformados levantam sérias preocupações sobre a fidelidade bíblica da representação de Jesus na série. A principal crítica, conforme apontado por estudiosos como o Reverendo Ageu Magalhães e outros pastores reformados, é que o Jesus retratado em The Chosen diverge significativamente do Jesus das Escrituras, criando uma versão que distorce aspectos fundamentais da natureza, missão e mensagem de Cristo.

O Jesus da Bíblia: Perfeição Divina e Humana

A doutrina reformada ensina que Jesus Cristo é a segunda pessoa da Trindade, plenamente Deus e plenamente homem (João 1:1,14). Ele viveu uma vida perfeita, sem pecado (Hebreus 4:15), sendo o único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5). Seu propósito era glorificar o Pai e realizar a obra redentora para salvar os eleitos. Toda a sua vida e ministério são marcados por obediência perfeita à vontade de Deus, incluindo a submissão completa às Escrituras e à Lei (Mateus 5:17-18). No entanto, The Chosen apresenta um Jesus mais humanizado, que exibe vulnerabilidades emocionais que não condizem com a imagem bíblica de um Cristo totalmente ciente de Sua missão e natureza divina. Esse Jesus parece aprender e se adaptar à medida que avança, o que compromete sua perfeição como Deus encarnado.

A Heresia da Humanização Excessiva de Cristo

O Reverendo Ageu Magalhães, em seus estudos sobre a série, destaca que The Chosen corre o risco de apresentar um “Jesus demasiadamente humano”, em um sentido que não corresponde ao Cristo divino da Escritura. A preocupação principal é que o Jesus da série parece ser moldado pelas expectativas emocionais e psicológicas do público moderno, perdendo sua glória divina e autoridade soberana. Segundo a tradição reformada, uma visão de Jesus que prioriza a fragilidade humana, sem equilibrar com sua perfeita divindade, cria uma visão distorcida de Cristo. João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, enfatiza a necessidade de manter a unidade das duas naturezas de Cristo: Ele é 100% homem, mas também 100% Deus. A tendência de reduzir Cristo à mera humanidade nega a profundidade do mistério da encarnação.

A Soberania de Jesus versus o Jesus Adaptável

Um dos traços mais problemáticos da série, segundo pastores reformados como Ageu Magalhães e outros, é o retrato de Jesus como alguém que parece adaptar-se às circunstâncias e aprender à medida que interage com as pessoas. Isso contrasta diretamente com a imagem bíblica de Cristo como o Filho soberano de Deus, onisciente e todo-poderoso. Em João 10:17-18, Jesus declara que Ele tem poder para dar a vida e tomá-la novamente, uma afirmação de sua plena soberania sobre o plano redentor. O Jesus de The Chosen, por vezes, parece incerto sobre os próximos passos, como se estivesse navegando entre as expectativas humanas para descobrir sua missão. Contudo, o Cristo das Escrituras sabia exatamente quem era e para que veio. Ele não era meramente um “profeta” ou “líder carismático”, mas o Salvador designado desde a eternidade para resgatar o Seu povo (Efésios 1:4-5).

O Jesus Relacional de The Chosen versus o Jesus Redentor da Bíblia

Outra crítica importante é o foco excessivo da série na relação emocional de Jesus com seus seguidores e com outros personagens. Enquanto o relacionamento de Cristo com seus discípulos é, de fato, um aspecto significativo nos Evangelhos, a ênfase principal de sua missão foi a obra redentora na cruz. Em The Chosen, Jesus muitas vezes parece mais preocupado com a construção de laços afetivos do que com a proclamação da verdade e do arrependimento. A mensagem central de Jesus nos Evangelhos é clara: Ele veio “buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 19:10). Ele chamou seus discípulos ao arrependimento e à fé (Mateus 4:17), e constantemente apontou para Sua morte sacrificial como o clímax de sua obra (Marcos 10:45). Em vez de ser simplesmente um amigo ou conselheiro, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29).

O Perigo de uma Apresentação Reduzida de Cristo

Reverendos reformados, como Ageu Magalhães e outros, alertam que The Chosen se inclina a apresentar uma versão mais “acessível” de Jesus, moldada pelas sensibilidades modernas. Isso é perigoso porque, ao tentar tornar Jesus mais “relacionável”, a série corre o risco de diminuir Sua santidade, autoridade e propósito redentor. Ao invés de adaptar Jesus às expectativas humanas, a doutrina reformada ensina que é o ser humano que deve ser transformado pela verdade de Cristo revelada na Palavra de Deus. O apóstolo Paulo nos adverte que, nos últimos dias, muitos prefeririam um “outro Jesus” (2 Coríntios 11:4) que se adequa às suas necessidades emocionais e culturais, ao invés do verdadeiro Cristo da Bíblia.

Conclusão

A representação de Jesus em The Chosen apresenta sérias divergências em relação ao Cristo bíblico, conforme reconhecido por teólogos reformados como o Reverendo Ageu Magalhães. O Jesus das Escrituras é perfeito em sua humanidade e divindade, soberano em sua missão redentora, e totalmente submisso à vontade do Pai. Qualquer tentativa de humanizar excessivamente Jesus, ao ponto de obscurecer sua divindade e propósito redentor, constitui uma heresia perigosa que deve ser corrigida à luz da Palavra de Deus. Em vez de buscar um Jesus moldado por sensibilidades contemporâneas, os crentes reformados são chamados a se apegar ao verdadeiro Jesus Cristo, o Verbo encarnado, que se revelou de maneira clara e suficiente nas Escrituras Sagradas.


Segue abaixo, na íntegra, o relato do reverendo Ageu Magalhães sobre a série The Chosen, trazendo uma análise crítica à luz da doutrina reformada. Suas observações destacam importantes discrepâncias entre o Jesus apresentado na série e o Jesus revelado nas Escrituras.

Eu não recomendo a série THE CHOSEN por alguns motivos:

    1. Atribuir imagem a Deus é quebra do 2º mandamento. Deus se revelou a nós por palavras, não por imagens.
    1. O ator apresenta um Jesus fraco, sem autoridade. Não é sem razão que muitos não crentes, incluindo ateus, gostam da série.
    1. Boa parte da produção é de mórmons, seita que não segue a Bíblia e não crê no mesmo Jesus que nós cremos.
    1. Há muita distorção bíblica na série. Por exemplo: Jesus não aceitando adoração de Nicodemus; Mateus como autista; Maria como sendo a fonte do Evangelho de João; Jesus dizendo que Maria é a pessoa mais poderosa que ele conhece, etc.
    1. A fé é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11.1). Se você precisa de uma imagem de Jesus para crer nele, ou para “ser aproximado de Deus” como muitos fãs da série têm dito, você não entendeu o que é a verdadeira fé.
    1. Criar uma imagem falsa de Jesus na mente é danoso à fé. Que imagem vem à sua mente quando você ora ou quando lê os Evangelhos? Se você assiste esta série, fatalmente, a imagem do ator é que estará em sua mente.
    1. Conheça a Jesus na fonte, na Bíblia. Rejeite imitações.

MAGALHÃES, Ageu. Eu não recomendo a série THE CHOSEN por alguns motivos. Facebook, 19 fev. 2024. Disponível em: https://www.facebook.com/story.php/?story_fbid=954673452693255&id=100044518265840&_rdr. Acesso em: 29 set. 2024.

MAGALHÃES, Ageu; BRAGA, Caio. The Chosen – A Bíblia não Foi Feita para Virar Filme. YouTube, 6 ago. 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=85JGO2Mz9Bs. Acesso em: 29/09/2024.

O Rev. Ageu Magalhães é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, com sólida formação teológica. Ele é bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José Manuel da Conceição (JMC) e pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Além disso, possui mestrado em Teologia Sistemática (M.Div.) pelo Centro de Pós-graduação Andrew Jumper, bem como um mestrado em Liderança Cristã (M.A.) pelo CPAJ em parceria com o Gordon College.